terça-feira, 10 de junho de 2014

Falta Engenharia nas Obras de Engenharia

Acidentes em obras ocorrem por muitas causas. Desde desconhecimentos de situações ou soluções aplicáveis em determinadas obras, ou por defeitos na correta avaliação da resistência dos materiais empregados e/ou da estabilidade das estruturas concebidas face às solicitações previstas para a sua operação. Podem ocorrer acidentes e desabamentos em estruturas definitivas, mas, na maioria dos casos, estes acontecem durante a construção. Isso nos leva à suposição de que não houve o devido cuidado de praticar Engenharia nas obras provisórias.
 

Desprezam-se os cálculos de formas, escoramentos, cimbramentos e apoios. Descuida-se de estudos de métodos construtivos seguros e eficazes. Negligencia-se na instalação de anteparos e plataformas de proteção do entorno contra a queda de ferramentas, materiais, peças e pessoas. Desconsideram solicitações das cargas efetivas e transitórias, inclusive de vento, enchentes, intempéries, etc.
 

Se considerarmos que acidentes em obras de Engenharia ocorrem por imperícia, imprudência ou negligência, com incidência isolada ou com incidência conjunta desses fatores, o engenheiro qualificado tem por dever atuar apenas se dominar o conhecimento técnico sobre a tarefa a que se propõe executar e ter presente a observação dos cuidados com a resistência e estabilidade das estruturas provisórias e permanentes em execução, ou seja, com perícia e oportunidade, assim como acompanhar responsavelmente a evolução da obra (jamais negligenciar).
 

Mas, o cerne do problema está na própria classe profissional do engenheiro que deveria impor a boa prática da profissão. Falta Engenharia nas obras de engenharia. O engenheiro tem muitos deveres a cumprir e exigir o seu cumprimento, segundo nosso Código de Ética, dos quais ressalto alguns:
  • A profissão deve ser desempenhada nos limites da capacidade pessoal do profissional;
  • O profissional engenheiro tem o dever de alertar sobre os riscos que vier a observar em trabalhos de terceiros;
  • O profissional engenheiro só deve se pronunciar publicamente em assuntos de sua especialidade se for solicitado para tal.
É evidente que a crise do setor de obras de infra-estrutura das décadas de 80 e 90, fez perderem-se os engenheiros experientes. Talvez essa sim seja a parcela que cabe à administração pública que não teve a visão suficiente para, a despeito da crise econômica, preservar estrategicamente um bom elenco de obras e, conseqüentemente, de experts em Engenharia.
 

No entanto, não posso deixar de manifestar minha tristeza e constrangimento a cada vez que acontece um acidente de Engenharia, grande ou pequeno. Pelo fato de ter acontecido, indicando que pode haver colegas incompetentes; pela freqüência com que colegas se arvoram em peritos a analisar aquilo que desconhecem, pelo esquecimento subseqüente do evento, sem que se aponte o responsável pelo desastre, e finalmente, quando estes  fatores negativos aparecem, perde-se a oportunidade da aprendizagem e da ampliação do conhecimento.
 

Editorial publicado no Jornal do Instituto de Engenharia no 55, nov/dez/2009